Mesmo depois da abertura do Portal 2020, voltamos ao século XIII, tempo da Inquisição. Não é brincadeira, nem drama. Trata-se de história baseada em fatos, ou, para alguns uma adversidade anunciada. Harry Potter e J. K. Rowling que se cuidem, pois, a caça às bruxas, no Brasil, é tão real que se fecharmos os olhos, o valor dos contos de fadas e a importância de se contar essas histórias poderão desaparecer como num passe de mágica.

Contar histórias é uma forma antiga de transmitir conhecimentos, valores, fantasias e memórias. Aliás, é bom reforçar que traz memórias afetivas agradabilíssimas para um adulto que foi devidamente impactado pelas bruxas, duendes e afins quando criança. E, a literatura infantil é tão relevante nesse contexto quanto cumpre um papel importante no desenvolvimento saudável dos pequeninos.

É comprovado que as crianças vivem em um mundo em que as imagens exercem influência para elas, pois, principalmente, nos primeiros anos de vida, ela ainda não está familiarizada com o pensamento abstrato. A formação de imagens é a maneira pela qual ela se aproxima do mundo.

Já a narrativa estimula a formação de imagens através do entendimento, aumentando, assim, a sua criatividade. Cada história prepara esse leitor especial para a assimilação posterior de conceitos lógicos.

As crianças nascem com a essência da natureza e, por isso, para elas, o mundo é um lugar belo e abundante.

A literatura infantil, quando traz os contos de fadas, duendes e bruxos, unindo imagem e narrativa, responde de maneira íntegra às preocupações atuais dos corpos físicos, humores e da essência espiritual de uma criança, pois ela aperfeiçoa o que há de mais criativo e lindo em qualquer ser: a imaginação — chave para o desenvolvimento harmonioso dos seres humanos.

Mesmo dentro desse contexto e ambiente salutar, as evidências da caça às bruxas no Brasil existem e seus indícios são fortes. O boicote e autocensura às obras infantis com tais elementos já está extrapolando o viés da sanidade mental, pois não adianta ser inteligente num país de dementes. É só conferir o relato de diferentes editoras, escritores, educadores e ilustradores de livros infantis na matéria “‘Caça às bruxas’ de Damares provoca autocensura no mercado literário infantil”, de Joana Oliveira.

Por experiência própria já tive um livro julgado apenas pela capa, sem sequer ser aberto para saber do que se tratava. É abominável e anacrônico esse medievalismo ao qual estamos vivendo. Nesse contexto de perseguição, a limitação de determinadas mentes ditas “pensantes” e “humanas” jamais entenderia o que Gilbert K. Chesterton quis dizer quando declarou que: “Os contos de fada são mais que reais, não porque nos dizem que os dragões existem, mas porque nos dizem que os dragões podem ser derrotados”.

No Dia Internacional do Livro Infantil deveríamos comemorar e agradecer a existência desses seres tão mágicos e imaginários, bem-humorados ou carrancudos, coloridos ou monocromáticos, geniosos, bondosos, de nariz grande, com varinha e chapéu pontiagudo, que cospem fogo ou que coabitam em nós, além da nossa imaginação. Na literatura, nada deve ser tabu, pois nascemos, somos e morreremos livres.

Há ainda muito dragão para ser derrotado!

Tenho que confessar que, ultimamente, eu ando sem a mínima paciência para o Brasil. Aliás, no dia que ele realmente decidir transmutar-se, de verdade, em amor ou em potência será fundamental um poderoso terapeuta para tirá-lo desse tempo de dualidade insano ao qual estamos vivenciando. A patologia é grave e é até constrangedor de se imaginar tal disfuncionamento.

Queria ter uma varinha mágica para sacudir, quiçá um pó de pirlimpimpim, e extinguir toda essa politicagem sem sentido do Brasil. Já que ficar sem votar não está adiantando muita coisa. Certamente, nessa minha fábula idealizada, Brasília viraria uma cidade fantasma e a nossa natureza revelar-se-ia plena e abundante com todos esses seres imaginários dentro de uma literatura benfazeja e estonteante.

É importante dar um salto quântico em nossas mentes sobre o assunto. Já aprendemos com a história que este tipo de comportamento só leva a humanidade a praticar ódio, raiva e rancor. Ser bruxa é exercitar a intuição divina. Ter intuição é privilégio do Sagrado feminino. A magia está na vida independente, pois nascemos livres por natureza. Nossas mães, tias, avós e toda a ancestralidade feminina tinham dentro de si uma linda bruxa encantando a vida ao lhe conceber, então, por favor, honre-as!


1 comentário

A autossuficiência de um aprendiz — Ana Dantas · 08/09/2020 às 8:05 AM

[…] do Abaeté”, personificados em Teté (adulto) e seu filho João (criança). No meu artigo “Caça às bruxas em tempos de Saltimbanco” eu já tinha abordado a questão do valor dos contos de fadas e a importância de se contar […]

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