Avança. Retrocede. Desenvolve. Acua. Expande. Cresce. Enriquece.
E assim fica a democratização da leitura e da literatura. Sabemos que ler e escrever são condições básicas para a vida cotidiana e convívio social. E a literatura, sim, dialoga com a vida social. Seja pelos seus aspectos criativos, seja pelo componente visual costurado com o verbal (no caso da literatura infantojuvenil), ou ainda, seja pela sutileza dos sinônimos ou antônimos em meio a dualidade que vivemos.
É época de burilar para sairmos do tédio e da rotina para, enfim, melhorar. Literatura e sociedade se conversam e não é algo que surgiu hoje ou da noite para o dia, é só prestar atenção na história. Mas o que podemos fazer quando nos deparamos com dados do tipo: 1% da população possui 22% dos livros?
Retratos da leitura expande a cada dia
Os maiores índices de leitura e compra de livros ainda se encontram nas camadas de renda mais elevada: classe A e com instrução superior. Significa que ainda existe uma dependência da escolaridade e do poder aquisitivo. Desigualdade notória, diria. É como se valesse a máxima de que “quanto maior a escolaridade e o poder econômico, maior o índice dos que apreciam a leitura de livros”. Será? Até que ponto?
O Brasil deixou de ganhar 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019, aponta a pesquisa “Retratos da Leitura”. O estudo considera leitor aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. A declaração segue critérios internacionais definidos pelo Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc). Os ditos leitores (ou pelo menos os que declararam ter lido um livro inteiro nos últimos três meses) são apenas 31%. Em números reais, somente 60 milhões de brasileiros atingiram este patamar.
Leitura cotidiana é impulso para hábitos renovadores
E para onde estão indo estes leitores já que em 2015, os brasileiros superaram a média mundial dos usuários do Instagram e em 2011, a Netflix aportou no Brasil se tornando popular até o presente momento? Tais hábitos, evidentemente, acabou impactando no índice de leitores do país. Em suma, o brasileiro está se tornando uma pessoa rasa: Ao invés de se aprofundar em literatura edificantes, preferem estar na superficialidade da leitura de post.
Além das bibliotecas públicas e escolares, claro, hoje temos mais opções do que algumas décadas atrás, sem dúvida, tais como bibliotecas itinerantes, bibliotecas comunitárias e várias iniciativas sem fins lucrativos para incentivar a leitura. Ainda assim é pouco! O conjunto de bibliotecas públicas brasileiras é insuficiente, apesar de alguns avanços específicos. Em termos de números, temos uma biblioteca para cada 34,5 mil habitantes. Se espantou com os dados? Prazer, é a nossa realidade. E, digo mais, um terço delas se concentra na região Sudeste.
O brasileiro ama ler, mesmo que ainda não tenha percebido isto
Uma biblioteca como a do Parque Villa-Lobos em São Paulo é um ponto fora da curva. Apesar de ela ter concorrido ao prêmio Biblioteca do Ano de 2019 da London Book Fair, ela não traduz a plena realidade brasileira. Já o que acontece nas regiões norte e nordeste do país, em termos de bibliotecas, é como se procurássemos uma agulha no palheiro. Nesse atual cenário, as bibliotecas comunitárias foram um ânimo e fortalecimento para a literatura, para o conhecimento ou para a magia de cada texto e obra publicada.
Para possibilitar adultos e crianças no acesso ao livro e democratizarmos a leitura, todos os cidadãos devem repensar o acesso à escolaridade, pois tanto a atividade escolar quanto a leitura devem estar na pauta de todas as agendas governamentais, do setor privado e familiar. Uma sociedade que tem pretensões de crescimento intelectual mundial deve se respeitar, a começar por assumir sua posição, na prática, sobre o assunto. Aliás, no meu livro “Teté do Abaeté”, eu provoco a questão da superação da leitura e analfabetismo através de uma personagem forte em todos os sentidos. Vale o tempo a leitura!
Transformando o mundo através de uma literatura libertadora, amorosa e verdadeira
Já se questionou, por exemplo, se o ato de ler é um ato essencialmente político? Se pensarmos que a leitura da palavra é precedida pela leitura do mundo, podemos dizer que sim, a leitura é também uma maneira de transformar esse mesmo mundo através de, inclusive, uma prática consciente. Melhor dizendo, a leitura é um dos requisitos essenciais da cidadania. Saber ler e escrever é nos transformar em nossas relações de poder.
Devemos nos empenhar — letrados ou não — para que toda população seja alfabetizada, e, mais do que isso, que todos tenham acesso às escolas e às bibliotecas públicas de qualidade. A leitura é libertadora. A compreensão de um texto é imprescindível, até mesmo, para o exercício da cidadania.
A importância de um texto na formação de um indivíduo, quiçá de um profissional, é primordial, pois consiste em uma atividade cognitiva de alto grau de complexidade. Mesmo que ela seja feita de forma silenciosa e isolada, ainda assim, indubitavelmente constitui uma prática social.
Descobrindo infinitos pontos de vistas e sentidos pela leitura
Muitos especialistas recomendam que a capacidade de ler pode ser mais bem aproveitada por meio do texto literário, uma vez que ele favorece mais a descoberta de sentidos que outros tipos de textos. É o prazer e conhecimento contribuindo para formação de leitores.
Se os livros não são utilizados efetivamente, não há sentido de tantos programas governamentais para a democratização da leitura a não ser beneficiar a indústria do livro. Contudo, sempre há luz no final do túnel. Recentemente foi divulgado numa live que, pela primeira vez na história do Brasil, o Governo Federal distribuiu livros didáticos para crianças de 4 a 5 anos através do Programa Conta pra mim e Criança Feliz. Foram um total de 2 milhões e 800 mil livros distribuídos para crianças da faixa da educação infantil. Além disto, 30 mil famílias — cujos pais estão no Auxílio Brasil — receberam cada uma delas um kit contendo 20 livros para incentivar a leitura entre os pequenos. Há de se comemorar!
Eu, como autora, quero ser lida, debatida e não apenas enfeitar uma estante de biblioteca. O escritor profissional já se libertou da vaidade. Em verdade, ele quer ser consumido em sua cultura e além das fronteiras. Literatura democrática é isso: É saber que a consciência do ato de ler é uma atitude emancipatória perante o texto e não uma absoluta verdade do produto consumido. É um amplificador de mente sã, arejada e pensante.
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