Depois da logline bem redigida de forma clara e assertiva há vários pontos importantes a serem definidos e exercitados a fim de que o roteirista não saia da estrada da escrita criativa com facilidade. Em outras palavras: a ideia é manter o foco sobre o que quer escrever, deixando a narrativa sempre coerente e estruturada. Desta forma, a história além de coesa se torna vendedora. E cada um desses pontos tem sua relevância para o produto final. Definir sobre o tema, gêneros narrativos e formato, bem como premissa, abertura e enredo é demonstrar autoridade sobre a sua ideia a ser desenvolvida quando da venda do seu produto final: o roteiro.

Se pensarmos o roteiro como um substantivo, então a minha primeira pergunta para um roteirista é: que tipo de roteiro você decidiu escrever? Em outros termos mais específico: uma tragédia, um drama, uma comédia, um romance ou um suspense? De fato, são tantas opções com tamanha diversidade que mesmo assim é valoroso se definir o tom da narrativa, ou ainda, o estilo da trama a ser contada, testemunhada, mostrada ou costurada. Com assertividade, a segunda pergunta é: qual é o assunto do seu roteiro? É importante que neste ponto o roteirista se pergunte que tipo de história está escrevendo, bem como já defina a demanda e utilidade do seu personagem. Tais questionamentos apoiam o roteirista a encontrar o seu tema.

Um tema para falar de meu
Ana Dantas
O olhar apurado de um roteirista

O tema é muito mais do que uma simples ideia na cabeça. Ele é o detalhe, a profundidade e a dimensão de sua história. Um tema dramatiza e incorpora a ideia inicial do roteirista. Ele também dramatiza ação e personagem. Sabendo que: “Ação é sobre o que a história é. E personagem é sobre quem a história é”, um dos pontos de partida para a escrita de um roteiro é conhecer o tema com precisão, intimidade, acuidade e inteligência.

O conceito de cada tema é particular, ou seja, é o olhar e a perspectiva do roteirista sobre determinado assunto, ou ainda, como ele é visto pelo autor. Saber com clareza qual o tema da obra e como quer abordá-la é essencial para a venda do roteiro. E por que saber esse ponto é tão importante? Porque é o roteirista que escolhe e se responsabiliza por determinar a execução dramática da história.

Como eu disse anteriormente, o tema é um ângulo bem particular de quem escreve sobre determinado assunto. A grande maioria dos meus alunos confundiam tema com o pano de fundo da história. Essa desordem demonstrava na escrita duas questões: imprecisão e ambiguidade. Ou seja, para o leitor analítico da construção de uma obra era o mesmo que dizer que o roteirista estava atirando para tudo quanto era lado, sem saber exatamente o assunto que queria abordar.

Um tema para falar de meu
Ana Dantas
O tema no todo

É importante ter em mente que o tema se aplica a todo o roteiro e não somente ao protagonista. O que quero dizer? Cada um dos subenredos ou subtramas é uma variação da temática escolhida, entretanto, com um obstáculo/dilema diferente e uma resolução própria. É delineando o tema desta forma que o roteirista amplia e aprofunda o significado e o impacto da obra, universalizando assim a trama. Quando o roteirista alcança universalizar o tema, em verdade, ele está unificando a estrutura e significado de sua abstração intelectual ilimitadamente e sob o ponto de vista ecumênico.

Tudo isto exposto, é bom ressaltar que o tema é explicitado em três momentos fundamentais: o obstáculo/ oportunidade, a ação e a premissa. O obstáculo/ oportunidade é o motor da ação que — por ser a questão central ao objetivo do personagem — deflagra na ação. Esta ação por sua vez se propõe a resolver o obstáculo/ oportunidade. E a premissa é o resultado do enfrentamento entre ambos: é o sentido da história, seja ele qual for. Confesso que, principalmente para os roteiristas iniciantes, nem sempre é tão fácil encontrar o tema apropriado à trama ou vice-versa.

Um tema para falar de meu
Ana Dantas
Meu Caju com pizza

É exatamente por isso, que a maioria dos grandes mestres recomenda aos jovens e iniciantes que escrevam a partir de suas próprias experiências, de um assunto do qual se tenha autoridade ou ainda sobre alguma vivência que lhe esteja próximo. E, então, a partir daí, universalizar sua experiência pessoal através da tradição desta escrita. E falo por conhecimento de causa própria. Todos os roteiros que escrevi no início de minha carreira traduziam de alguma forma a familiaridade com as minhas experiências e vivências pessoais.

Em Caju com pizza, por exemplo, o tema proposto pelo edital era: “Fluxos e migrações no estado de São Paulo”. Um tema perfeito para uma roteirista nascida e criada em Salvador, na Bahia, e que morava a mais de 20 anos em São Paulo. Na prática, eu tinha a vivência do que era migrar de um estado nordestino para o estado de São Paulo. E, como adendo, a comédia romântica tinha uma protagonista de origem sergipana, terra Natal de minha mãe.

Um tema para falar de meu
Ana Dantas
Livre-se do déjà vu

Conhecer profundamente o tema é o ponto de partida para a argumentação de um roteiro e, consequentemente, a escrita dele. Muitos indivíduos iniciam seus roteiros com uma ideia vaga e superficial sobre a temática em sua cabeça. Isso pode funcionar até o primeiro ato da narrativa, contudo, não se sustenta por muito tempo. Vejo isso na maioria dos aprendizes que tive, pois em determinado ponto eles ficam sem ideias admiráveis. E o que acontece? A história se torna um perfeito déjà vu, em outras palavras, vemos mais do mesmo, do que já existe ou vimos no cinema mundial, um tipo “copia e cola”.

Quando o roteirista empaca em sua criação, eu sugiro incondicionalmente uma pesquisa sobre o tema. E o resultado? A história toma rumos significativos, valorizando ainda mais a ideia original do autor. A pesquisa é um ponto essencial no desenvolvimento do tema, principalmente quando o profissional não está familiarizado com o assunto. Definido o tema, caia em campo: livros, jornais, revistas, internet e entrevistas pessoais são mais do que bem-vindos, são assertivos. Muitos escritores colecionam recortes de jornais, arquiva-os para quem sabe um dia servir como fonte de inspiração. Eu mesma faço isso cotidianamente.

Mesmo que o tema seja uma abstração intelectual, é a partir dele que unificamos a estrutura. Obviamente que tem muito mais a se falar sobre este assunto, bem como sobre o desenvolvimento de um tema no contexto da escrita do audiovisual, entretanto, hoje fico por aqui. Aproveita e mencione nos comentários se este artigo expandiu seus conhecimentos e/ou quais foram as experiências singulares sobre algum desenvolvimento temático que você o fez.