Ego bem resolvido!
Não se sabe determinar quando começou a profissão de ghost-writer ou escritor fantasma, em português. O fato é que a expressão inglesa que qualifica o profissional de alto nível especializado em prestar serviços de redação de textos já se tornou popular, apesar de seu ofício silencioso. Além do sigilo absoluto sobre a escrita que exerce para seus clientes, a propriedade intelectual da obra fica para o contratante, bem como os respectivos direitos autorais e a fama que desfruta ou que a obra possa render. Essa dinâmica de sigilo absoluto faz parte inerente do contrato ou acordo de cessão de direitos autorias, diga-se de passagem.
Dito isto, vamos combinar que o ghost-writer tem que ser muito bem resolvido com o seu ego para exercer tal função, uma vez que, inclusive, o texto deve refletir a voz do seu cliente e não a sua. O campo para este profissional atualmente é vasto, vai desde a escrita de livros, blogs, textos para conteúdo online, artigos e matérias, apostilas e outros materiais, seja para pessoa física ou jurídica.
Um mercado em expansão.
Há uma forte tendência de expansão desse nicho no mercado de trabalho e o marketing de conteúdo está em evidência. Os blogs institucionais, por exemplo, são uma boa forma de atrair clientes, enriquecer os produtos e serviços oferecidos, além de fidelizar consumidores. Assim, a demanda é considerável nessa área. Outro fator é que com o desenvolvimento tecnológico, o acesso a e-books e outras obras digitais se expandiram e, com isso, também as possibilidades de atuação como escritor.
Nesse artigo, contudo, iremos nos ater a escrita de livros biográficos. Livro fascina todo mundo, pois ele perpetua o registro de uma história, por mais que o mundo seja virtual. Todos querem deixar ou memorizar sua narrativa e seus aprendizados. As razões para se contratar um ghost-writer são as mais diversas, desde falta de tempo, paciência ou talento para escrita, dentre tantas outras.
O fato é que não existe uma área específica em que a diversão da escrita do ghost-writer seja mais requisitada. Os temas são variados e as possibilidades de produções biográficas são vastas. O recorte pode ser feito em parte de uma vida ou no todo dela. Com foco num assunto específico ou num personagem divertido, pacífico e quiçá magnífico. Famosos, anônimos, empresários, atletas, políticos, artistas, modelos pouco importa, se a história for boa e atrativa o investimento está valendo o tempo dedicado.
As produções biográficas são conteúdos maiores que exigem entrevistas e pesquisas intensas. Usualmente são pessoas que detém o domínio de algum conteúdo, mas não tem tempo ou não sabe desenvolver de forma atrativa ao leitor comum. Sim, digo atrativa, pois até para se costurar uma boa biografia em palavras, há de se dar a voz ao personagem em questão com autenticidade. Mesmo que esse personagem seja, por exemplo, uma empresa.
O ghost-writer não é um jornalista investigativo
Um livro biográfico deve ser diferente de outro. E a razão é muito simples: em cada personagem o ghost-writer deve captar a compreensão do estilo, das sutilezas e da clareza que o contratante queira empreender em sua obra. Nessa construção, faz-se necessário a troca de ideias, ajustes e, evidentemente, o acompanhamento do contratante é salutar nessa criação.
Nesse serviço prestado, o livro não é de quem escreve, pois as ideias não são dele e muito menos a história. O ghost-writer apenas organiza os pensamentos com a melhor interpretação do que está sendo dito ou do que foi pesquisado. E aí, tem uma dica preciosa que eu ouvi esses dias de uma entrevistada num desses programas de literatura. Ela dizia que se o ghost-writer “discordar das ideias da pessoa, então, não escreva para ela”. E tenho a concordar com essa afirmativa, pois além do conflito de opinião já pré-estabelecido, acredito que o contratante e o contratado têm que estar na mesma frequência de pensamento para que essa voz seja autêntica.
Um ghost-writer será assertivo com seu cliente se eles tiverem, por exemplo, a mesma faixa etária, quem sabe afinidades com assuntos ou até experienciaram quase que as mesmas questões. Há de se ter esse encaixe profissional, já que a narrativa, seja ela qual for, e a reflexão são de quem contrata.
Vendedor de palavras
Transpor a linguagem falada com a escrita, encontrar o ritmo — seja poética ou objetiva — é do profissional contratado. O jogo de misturar a técnica da escrita com a forma que a pessoa se expressa é que tornará a história interessante, saborosa e sedutora para o leitor. O livro biográfico, assim como o gênero ficcional, tem que chamar a atenção de quem lê e entretê-lo desde a primeira página. O gancho entre os capítulos, a brincadeira com o leitor de puxar ele para dentro da história, como se fosse uma conversa de velhos conhecidos é de extrema importância. O desafio é mantê-lo curioso para o que vem a seguir. É fazer com que o leitor devore as palavras vendidas, organizadas e bem bordadas sem se quer dar conta que a leitura do livro findou.
Dizem que ser ghost-writer é uma consequência do trabalho da escrita, mas eu acredito que é mais do que isso. Para mim, funciona também como um consultório do psicanalista uma vez que o cliente se libera dos sentimentos, que tumultua por entre suas células, ao externar a sua vida, o seu aprendizado ou um mero assunto a ser abordado. Um aprendizado ímpar essa troca de dar e receber entre contratante e contratado!
E, você, tem uma boa história de vida para contar? Quem sabe a memória de sua empresa? Se gostou deste recurso e quer desenvolver melhor essa ideia, não hesite em contatar-me!
1 comentário
Script Doctoring ou Story Consultant? — Ana Dantas · 28/05/2021 às 8:03 AM
[…] sendo acessível e flexível às recomendações. Para finalizar, como eu disse em meu artigo “Ghost-writer, um fantasma oculto”, o ego de qualquer profissional tem que ser muito bem resolvido para exercer qualquer […]