São João, acende a fogueira do meu coração

Gostaria de lhe convidar para apreciar o São João de um jeito bem particular. Que tal vir comigo numa viagem narrativa calorosa? O fogo é um dos quartetos fantásticos da natureza e desde a antiguidade tem sido considerado sagrado. Talvez por isso sempre nos deparamos com ele nas inúmeras cerimônias místicas e religiosas. E, especialmente na data de hoje, cantaríamos na modinha popular:

“O balão tá subindo
Tá caindo a garoa
O céu é tão lindo
E a noite é tão boa

São João
São João
Acende a fogueira
do meu coração.”

Fogo sagrado e casamenteiro

A fogueira, característica das festas de São João, tem sua explicação na história do nascimento de João Batista. Ela era um sinal de Santa Isabel, mãe de São João, para Maria, mãe de Jesus. Conta a história que Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora e disse que dentro em breve nasceria seu filho: João Batista.

Para que Nossa Senhora soubesse do nascimento de João, Santa Isabel disse que iria acender uma fogueira bem grande e ergueria um mastro com uma boneca sobre ele. Lúcia Helena Rangel conta-nos essa história no livro “Festas juninas, festas de São João: origens, tradições e história”.

A energia do fogo pode tanto manter, quanto destruir a vida. É energia pura, associada ao espírito e um grande catalisador de mudanças. E a fogueira, tradição nas festas de São João, é um dos centros das atenções dessa comemoração que, a propósito, é a segunda maior festa popular realizada pelos brasileiros. Tais celebrações no Brasil vem, pelo menos, desde o século XVII com diversas narrativas.

A prática do acendimento da fogueira foi trazida pelos jesuítas. Em torno desse fogaréu encantador desenvolveu-se uma série de superstições e simpatias. Uma delas — que acho bem curiosa dentro do nosso folclore — é a simpatia de se passear descalço nas brasas com uma faca virgem em mãos. A faca deve ser cravada em uma bananeira na sequência para que, no dia seguinte, a pessoa possa observar os desenhos que a nódoa do caule terá produzido. Nos traços aparecerão as iniciais do nome da pessoa com quem vai se casar.

O poder quântico do fogo

Saindo das crenças populares e dando uma volta pelo mundo quântico, para Gamow e Alpher: “o universo se comportava como uma bola de fogo” na explosão apocalíptica — mais conhecida como a Teoria do Big Bang (Grande Explosão) — entre 15 e 20 bilhões de anos atrás. Um elemento bem fascinante que nos acompanha desde os primórdios de toda uma existência. Ou seja, o Universo estava em expansão energética em sua origem e, certamente, o fogo teve uma coparticipação bem especial nesse episódio. É só parar para observar as densidade e temperatura infinitamente altas que tantos cientistas em suas inúmeras investigações defende. Um clássico de nossa narrativa investigativa!

Imaginemos então o poder de um fogueira, seu intenso fogo e toda a sua energia em volta da comemoração junina.

Outra curiosidade, além de toda essa resenha sobre citado elemento, sob o ponto de vista do autoconhecimento ou espiritual, como queiram qualificar, o elemento fogo é o ingrediente associado à dimensão imaterial — responsável pela realização — pois é de fundamental importância para acender a chama que há em cada um de nós. Neste caso, é como se o fogo nos inflamasse a fim de nos manter conectados à nossa essência, seja para buscar os nossos ideais, por algum sentido e significado de vida.

Você nunca caminhou sobre brasas quentes?

Além de ser uma tradição milenar, caminhar sobre brasas quentes diz respeito a um rito de passagem. Ou ainda, uma forma de demonstrar os poderes especiais de faquires ou xamãs. Em tempos mais recentes, tais prática passou a ser adotada em seminários motivacionais e no treinamento de vendedores e de executivos. Trata-se de uma “prova do poder da mente”. E, certamente, quem pratica esse andar excêntrico saí com mais fogo nos olhos para conquistar qualquer coisa no Universo.

Assim, quando estiver diante de uma fogueira de São João, fascinado pela dança das labaredas de diversas cores, lembre-se que um simples fogaréu tem muito a nos contar sobre nossa natureza. Desde nossa narrativa original — enquanto parte do cosmos — até de inspiração para a vida ou encontro ascensional. Não obstante sua lindeza inigualável, você consegue se perder com o olhar na folia orquestrada da festa, enquanto seus pensamentos se acham no silêncio único do queimar.

E como cantaria Luiz Gonzaga:

“A fogueira tá queimando
Em homenagem a São João
O forró já começou
Vamos gente, rapapé nesse salão”

Então, quando estiver acendendo a fogueira do seu coração, se pergunte o quanto você tem se permitido incendiar em prol de um sentido maior de vida. Se puder, deixe aqui o seu comentário sobre o seu fogo e entusiasmo pessoal!