Além de valioso, o ouro é raro. Se o ouro é algo precioso, o silêncio é sublime. Exatamente por isso que temos dois ouvidos e dois olhos, e, apenas uma boca. O silêncio de ouro nos conecta com nossa divindade. Nos faz sorrir e sermos nós, em abundância plena.
Os benefícios são inúmeros e o aprendizado é necessário para que nossos pensamentos se acalmem e reconectem-se com o que há de admirável em nós. A ausência de som coloca ordem no caos de nossa mente. É como se a nossa cabeça fosse um quartinho para guardar e armazenar infinitas possibilidades, sejam elas que qualificações você as der para si.
Nesse imaginário quartinho há de tudo, inclusive, além de uma luz fraca, tem-se um tapete que vira e mexe você varre sujeira para dentro dele e outros cacarecos que não lhe serve de nada. Quando o silêncio abre a porta desse quartinho, a primeira coisa que ele faz é trocar a lâmpada, a partir daí, usufruímos de uma viagem sem volta, pois, com a lâmpada mais potente podemos enxergar toda a limpeza que há por se fazer.
De ordem prática e, de acordo com um estudo realizado pela Brain Structure & Function, o silêncio de duas horas aumenta a produção de células cerebrais, melhorando nossa memória e sono, alivia o estresse, e auxilia nossa concentração. Sem contar que, em menos tempo que isso, ele reduz nossa pressão arterial e frequência cardíaca.
Antes mesmo de eu começar a prática da meditação, eu comprovei em mim o poder do silêncio. Quando ainda trabalhava na área de promoções e eventos, eu fui acompanhar um grupo de ganhadores de uma campanha de incentivo às vendas de uma montadora ao qual eu atendia e, dentre as atividades que a agência propôs, uma delas era a de pintar cangas num dos inúmeros quiosques do resort.
Me juntei às mulheres — maioria esposas dos ganhadores — no quiosque para também pintar uma canga para mim. Levamos a tarde tão entretidas naquela atividade que quase não se ouvia uma única voz. Permiti, então, pela primeira vez que eu me recorde de forma consciente, que minha mente descansasse de verdade e percebi a redução do meu estresse, resultado da correria da organização daquela viagem de incentivo.
Fazer aquela atividade cultural descompromissada e em pleno silêncio ativou ainda mais a minha criatividade. O ouro do silêncio estava justamente ali: era mais eficaz do que uma música suave.
A opulência do silêncio é maleável, reage menos e é um excelente condutor de boas possibilidades
Se o ouro é um excelente refletor de raios UV, o silêncio reflete o nosso ser brilhantemente. Quando nos damos a oportunidade de, por exemplo, meditarmos em silêncio ou estarmos em quietude conosco, todas as nossas máscaras públicas e papéis sociais são retirados para que simplesmente possamos nos confrontar com nosso verdadeiro eu. É como se fossemos obrigados a perceber, domar e acolher nossos animais internos.
Na sabedoria do Tao, o Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, pois ele aceita sem condições nossos pensamentos, emoções, palavras e ações. Contudo, sejamos justos, ele também nos envia o reflexo da nossa energia através das diferentes circunstâncias que a vida nos apresenta. Isso nos possibilita praticar ricas e intrínsecas habilidades.
Sendo como um espelho, com a mente tranquila e em remanso, certamente exercemos uma comunicação sincera e fluída. O silêncio interno nos dá confiança e sabedoria. Consequentemente, nos tornamos mais livres e humilde, pois esse espelho só nos ensina que o que incomoda nos outros é apenas uma projeção nossa. A mente que repousa deixa que cada um resolva seus conflitos e concentra-se nela para se tornar mais forte e integra.
A reticência é espiritualmente poderosa
Quando temos consciência que somos uma parte do mundo ou de um todo, nos conectamos com forças vitais mais sutis em ação no Universo. E, então, entendemos que o silêncio é uma dádiva do tempo. Ao exercitá-lo nos damos conta que, no rebuliço diário de nossas mentes, é importante dar atenção aquilo que surgi e usualmente não enxergamos. Detectado o que é fundamental, nós conseguimos moldar e curar nossa realidade em nosso favor e proveito.
O silêncio nos torna impassível e nos educa a falar menos, afinal, como disse anteriormente temos dois ouvidos e dois olhos, e, apenas uma boca. Há de se ter uma razão para isso. No final das contas, a personalidade artificial vai dando espaço para a nossa natureza interna.
A paz propicia pensar grande
Quando não nos distraímos com as minúcias da vida cotidiana, preocupações desnecessárias, apego a lembranças passadas ou ansiedade com o futuro, pensamos grande. Segundo Eckhart Tolle, em seu livro “O poder do agora”, a cada momento um portal se abre. Tolle incentiva para que prestemos mais atenção ao silêncio do que aos sons. Para ele: “Prestar atenção ao silêncio exterior cria um silêncio interior, e a mente fica serena. Um portal está se abrindo. (…) Ao fazer isso, uma dimensão de serenidade cresce dentro de você. (…) Você penetrou no Não Manifesto.”
Numa Bienal, não me recordo o ano, eu fui abordada por uma jovem e simpática escritora que olhou para mim e disse que eu transmitia muita paz. Sorri do comentário e agradeci tal sensibilidade. Sorri, pois, de fato, até chegar nesta calmaria que me encontro hoje, muitas águas de aprendizados foram navegadas. E posso dizer que foram maremotos e verdadeiros tsunamis que ocorreram nessa jornada, mas sei que valeu meu tempo dedicado! Agradeci, de toda forma, pois já tenho consciência de que tudo que se agradece, floresce.
Seguramente, meu silêncio é uma das minhas maiores conquistas nesse caminhar espiritual e universalista que optei por trilhar. Assim, sigo bem acompanhada com minha quietude plena!
3 comentários
Maria Schlaepfer · 08/05/2020 às 9:17 AM
No silêncio
Alessandra · 10/06/2020 às 1:21 PM
Gratidão pela linda reflexão 🙏♥️
Ana Dantas · 11/06/2020 às 11:21 AM
Alessandra, querida, eu é que agradeço a oportunidade de ser lida. 🙏🙏🙏